Blink-182 tem status de lenda após reunião, dizem integrantes
Uma canção chamada “All the Small Things” colocou os roqueiros punks do Blink-182 no mapa da música pop, mas foi uma coisa grande e trágica que causou a reunião do grupo no ano passado, após mais de três anos separados. Em 21 de setembro, o baterista Travis Barker, que após a separação da banda se transformou em astro de reality show da televisão, sofreu extensas queimaduras de segundo e terceiro grau na queda de um avião na Carolina do Sul, que resultou na morte de quatro outras pessoas, incluindo o assistente pessoal de Barker, e também feriu o colaborador musical DJ AM. A notícia levou o guitarrista Tom DeLonge, cuja saída acrimoniosa da banda colocou o Blink-182 em uma pausa por tempo indeterminado em 2005, a escrever uma carta ao seu velho amigo. “Foi, eu acho, um momento muito humano, e todos nós simplesmente começamos a nos falar de novo”, diz DeLonge, 33 anos, por telefone de sua casa no sul da Califórnia, antes de sair para o ensaio para a turnê de reunião do grupo. “Foi um momento perfeito para deixar para trás toda aquela velha porcaria que realmente não importava. Eu acho que às vezes é necessário algo daquela magnitude para fazer as pessoas perceberem quão estúpidas podem ser, sabe como é?” A correspondência levou à conversa, e logo DeLonge estava em contato não apenas com Barker, mas também com o baixista do Blink, Mark Hoppus.
“Mesmo que apenas se resumisse a isso, voltar a conversar, já seria realmente bom”, diz o guitarrista. Mas a conversa revelou ser apenas o começo. “As conversas continuaram progredindo até chegar a ‘Devemos tocar juntos?’” lembra DeLonge. “E assim que isso chegou aos empresários, logo estávamos tocando em todos esses lugares diferentes. Agora estamos correndo atrás dessa meta, em vez de apenas tendo a ideia de que poderíamos realizar uma turnê.” “Na verdade, é um bocado divertido.” O Blink-182, que anunciou sua reunião ao aparecer no Prêmio Grammy de 2009 e ao divulgar depois um comunicado dizendo simplesmente, “Nós voltamos, realmente voltamos”, está ganhando novamente impulso como grupo. A banda entrou em estúdio para gravar um novo álbum, mas rapidamente decidiu que o projeto era ambicioso demais para ser concluído antes da banda cair na estrada. Mas uma faixa nova, “Up All Night”, foi finalizada a tempo de ser lançada juntamente com a turnê. “Ela ficou um pouco (Pink) Floyd, um pouco Rush, um pouco Blink”, diz DeLonge. “É maluco, mas de alguma forma soa exatamente de onde paramos.” A esta altura DeLonge diz que, apesar das palavras amargas trocadas entre os membros da banda, a separação em 2005 envolveu mais fadiga e necessidade de descanso do que outra coisa –e, no seu caso, um desejo de desacelerar as coisas e passar algum tempo com sua família. “As prioridades de cada um mudam”, diz DeLonge, que formou o Blink-182 em 1992, após conhecer Hoppus por intermédio da irmã dele, uma colega de classe do guitarrista no colégio Rancho Bernardo. “Eu só queria um tempo. Os outros sentiram como se eu estivesse tentando controlar quando e como faríamos turnês, quando eu apenas estava dizendo que queria ficar em casa por algum tempo.” O Blink-182, que adicionou Barker em 1998, certamente se manteve ocupado e prolífico em sua fase inicial. O grupo lançou cinco álbuns em nove anos, fez muito sucesso com o cinco vezes platinado “Enema of the State” (1999) e emplacou uma sucessão de hits como “What’s My Age Again?” (1999), “Adam’s Song” (1999), “The Rock Show” (2001) e “Feeling This” (2003). Misturando a ansiedade juvenil com alegre irreverência, até mesmo humor universitário, o grupo vendeu mais de 20 milhões de álbuns em todo o mundo e acumulou muita milhagem, tanto por conta própria quanto como parte da popular e notoriamente árdua Vans Warped Tour. Mas mesmo àquela altura a química do Blink-182 era volátil. “Nós éramos três caras totalmente diferentes”, diz DeLonge. “Eu sou do tipo underground, que escuta Arcade Fire, Mark é um sujeito mais popular, que ainda escuta e produz coisas pop-punk, e Travis é o sujeito hip hop, que cresceu em um bairro ruim e grava com The Game e todo esse pessoal. “Quando nos unimos, você consegue se identificar com um dos membros, mas também lembramos seus amigos, fazendo piadas idiotas, errando as canções no palco e atribuindo a culpa uns aos outros, falando palavrão. Eu acho que isso foi uma inspiração para toda uma geração de garotos, da mesma forma que uma banda como o The Who foi para mim.” Mas o sucesso da banda trouxe alguns fardos surpreendentes e inesperados. “Deixou de ser a respeito de nós três”, diz DeLonge, que enfureceu Hoppus ao se aliar com Barker em uma banda paralela, Box Car Racer, enquanto o Blink-182 ainda estava ativo. “Passou a se tratar de toda uma máquina. Era a indústria Blink, e há tantas pessoas envolvidas, tantas decisões sendo tomadas o tempo todo, que ficamos fora de nossas mãos. Eu acho que isso acontece com muitas bandas.” “Logo, eu acho que na separação nós todos estávamos... dizendo a verdade segundo nossos pontos de vista.
Nós apenas não estávamos nos comunicando e nos conectando uns com os outros como quando começamos a banda.” Após a separação, DeLonge lançou uma nova banda, Angels & Airwaves, que lançará seu terceiro álbum, “Love”, e um filme associado no terceiro trimestre. Hoppus e Barker também formaram uma banda, +44, e Barker se juntou a Tim Armstrong, do Rancid, em um grupo chamado Transplants. Hoppus também produziu grupos como New Found Glory, Idiot Pilot e The Matches. Mas apesar do Blink-182 não ter ficado ausente por tanto tempo –algumas bandas levam muito mais tempo apenas para gravar um álbum– DeLonge e seus companheiros notaram uma clara mudança na estatura da banda. “Eu nem posso definir quão maior a banda está no momento. É como um status de lenda. Nós costumávamos tocar para 8 mil pessoas por noite, mas agora estamos tocando para 25 mil, 30 mil por noite nesta turnê. É insano. Nós estamos realmente espantados com isso.” Os rapazes do Blink esperam que novo álbum seja recebido com o mesmo entusiasmo, quando sair. DeLonge diz que, após a volta da banda, a primeira coisa que o trio fez foi começar a “trocar ideias para novas canções”, antes mesmo de pegarem seus instrumentos para tocarem juntos. O sucesso da turnê, entretanto, adiou o trabalho em tudo exceto “Up All Night”, de forma que nem mesmo DeLonge sabe ao certo quando o novo álbum se tornará o foco principal da banda. “Nós estamos recebendo estas ofertas para ser a atração principal nos maiores shows do mundo, então não sei o que vai acontecer.” Mas ele está confiante de que a banda permanecerá ativa pelo futuro previsível, apesar dele planejar manter o Angels & Airwaves ativo juntamente com os projetos paralelos dos outros membros do Blink-182.
“Eu acho que há espaço para o que todos quiserem fazer. Há espaço para tudo. Nós apenas temos que decidir como e quando nos unirmos para realizar este ato de mágica, que é empolgante para mim. Para mim, isso parece algo libertador e, criativamente, uma ótima direção para seguir.”